A
invenção do Papel
Antes de colocar as características
da produção do papel de trapo, será oportuno descrever os principais suportes
dos veículos de informação até os nossos dias.
Grande parte do acervo documental e
bibliográfico da humanidade encontra-se, em sua maioria, em suporte de papel. O
papel é um material sensível à degradação, levando em conta diferentes fatores,
a sua degradação mais comum é a acidificação da celulose da qual é composto.
A invenção do papel como conhecemos
hoje é creditada aos chineses em 105 d. C., a partir da casca da amoreira,
restos de roupa e redes velhas, criou-se o princípio básico que é usado até
hoje na fabricação do papel. Os exemplares que chegaram até os nossos dias
provam que o papel feito pelos antigos chineses era de alta qualidade, que
permite, até mesmo, compará-los ao papel
feito atualmente. Os papéis utilizados hoje em nossa vida cotidiana
(jornais, cadernos, livros, etc.) são feitos de celulose encontrada nas árvores.
Em seu livro La Restauracióndel Papel, Salvador Viñas coloca a definição mais
corrente sobre o papel ao dizer que “el papel como um produto de forma laminar
que está compuesto por fibras vegetales sueltas dispuesta de forma aleatória, o
por acortar aún más, como uma lámina formada por fibras vegetales sueltas
aleatoriamente dispuesta”. (VIÑAS, 2010, p.27)
Em sua composição básica, a
fabricação de papel consiste na preparação da pasta, que após o processamento
temos a formação do papel.
Biblioteca Nacional
A partir de uma visita técnica-cultural monitorada, o documentário aborda o trabalho da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e como atuam na conservação e restauração de seu acervo.
Apontamentos
acerca da história do livro
A história da evolução
do livro se inicia no século II, passando pela Idade Média até as publicações
contemporâneas. O livro sempre exerceu influencia na formação do espírito
humano e na difusão de ideias e conhecimento. Segundo Chatier:
Manuscritos ou impressos, os
livros são objetos cujas formas comandam, se não a imposição de um sentido ao
texto que carregam, ao menos os usos de que podem ser investidos e as
apropriações as quais são suscetíveis. As obras, os discursos, só existem
quando se tornam realidades físicas, inscritas sobre as páginas de um livro,
transmitidas por uma voz que lê ou narra, declamadas num palco de teatro.
Compreender os princípios que governam a ‘ordem do discurso’ pressupõe decifrar
com todo o rigor, aqueles outros que fundamentam os processos de produção, de
comunicação e de recepção dos livros (e de outros objetos que veiculem o
escrito). (CHATIER, 1999, p.8)
O autor nos faz
perceber que as histórias transpassadas não são casuais, tem-se uma intenção ao
se redigir as palavras através da escrita, muita vezes na leitura do todo, este
significado se dissolve, ou seja, não o percebemos.
Em seu texto, O Aparecimento do Livro, Lucien Lebvre
aponta os primeiros indícios do aparecimento do livro e coloca que,
ao
longo dos sete séculos que decorrem desde a queda do Império Romano até o século
XII, foram realmente os mosteiros e, acessoriamente, o conjunto dos outros
estabelecimentos eclesiásticos que conservaram o monopólio quase integral da
cultura livresca e da produção do livro. Não é menos certo, por outro lado, que
a partir do final do século XII interveio uma profunda modificação e que as
transformações intelectuais e sociais, traduzidas especialmente pela fundação
das universidades e pelo desenvolvimento da instrução entre leigos, ao mesmo
tempo em que se formavam uma nova classe burguesa, tiveram repercussões
profundas nas condições em que os livros eram compostos, escritos, copiados e
difundidos. (FEBVRE, 1992, p.22)
Os livros produzidos na Europa durante
o século XVII chegavam ao Brasil com facilidade, construindo e moldando nossa
forma de entendimento da realidade. Em Minas, em particular, esses livros
contribuíram para o grande desenvolvimento da cultura social e política do
Brasil durante o período colonial,
os
primeiros exemplares chegaram com os jesuítas, no século XVI. No século XVII,
os volumes mais comuns nas bibliotecas eram os catecismos, resumos de histórias
santas, diretivas, exercícios espirituais, livros de novenas, orações e manuais
para melhor aproveitar os sacramentos. (SANTIAGO, 2009,pag.24)
O objeto de estudo deste trabalho,
o missal romano, caracteriza-se por ser um livro usado nas missas de rito
romano para as leituras próprias do celebrante (um clérigo). Os missais tinham
por finalidade “uniformizar e coordenar as orações da comunidade de fiéis, que
acessavam seus dizeres por intermédio da voz do celebrante. Orientava-se para a
coletividade e inseria-se numa prática sociabilizada de leitura”. (SANTIAGO,
2009, p. 214)
A norma de oração do missal, esta
em consonância com as normas da fé, é uma simulação de ato teatral, reforçado
pela musica, pelo incenso e pela iluminação das velas, criando um ambiente de
estímulos perceptivos onde os receptores são atingidos por diferentes meios
cognitivos.
Os missais orientam o cotidiano das
celebrações litúrgicas, colocando a maneira como o livro deveria ser lido, e em
quais dias.
É importante
ressaltar de quem organizava os ritos, os quais os missais tiveram um
importante papel na difusão das ideias do período colonial, tinham como
protagonistas as Irmandades. Em seu texto Mecenato e Fontes Iconográficas na
Pintura Colonial Mineira, Alex Bohrer
caracteriza o missal apresentando sempre a mesma estrutura básica, segundo o
autor:
uma capa (com o nome completo do Missal, a cidade de
impressão, a tipografia, a data e, em grande numero de missais uma pequena
gravura), uma contra capa, uma apresentação em latim (feita por um ou mais
papal), textos litúrgicos (em latim), partituras de musicas sacras, pequenas
ilustrações, tudo entremeado por gravuras principais. (BOHRER, 2004, p. 5)
Geralmente as
gravuras[1] de pagina inteira eram dispostas na página esquerda dos
missais e representavam : Anunciação, Natividade, Epifania (adoração dos magos),
Crucificação, Ressureição, Ascenção de
cristo, Pentecostes, Santa Ceia, Assunção da virgem, Santíssima Trindade.
Os
temas destas gravuras principais obedeciam a liturgia vivida pela igreja
durante o ano, “essas estampas situavam-se imediatamente
antes do texto referente à cerimônia alusiva à passagem representada nas
imagens.” (SANTIAGO, 2009, p.226). Os missais
foram responsáveis pela popularização e reprodução das imagens neles
retratadas, determinando assim as gravuras, estas gravuras eram almejadas por
comitentes e artistas.
As casas impressoras usavam
manancial restrito de pranchas para ilustrar cada uma das passagens do Missal,
ou seja, a mesma gravura era impressa em vários livros trazidos à luz por uma
mesma tipografia. Revela-se, assim, que a função das imagens relacionava-se
intimamente com o texto, não tendo uma autonomia estética que justificasse a
abertura de novas matrizes. (SANTIAGO, 2009, p.226)
Em sua pesquisa sobre
os livros e vocabulário iconográfico, Camila Santiago nos coloca que:
a maioria dos missais
encontrados, e possivelmente a maioria dos que circulavam na época, vinha da
Tipografia de Plantin, sobretudo os impressos até a década de 60 do século
XVIII, e da Impressão Régia, cuja primeira edição é o missal de 1775, ainda sob
o privilégio concedido a Francisco Gonçalves Marques. (SANTIAGO, 2009, p. 228)
[1]O termo Gravura é a denominação genérica das
técnicas que permitem obter imagens por meio de matrizes. A técnica da gravura em Metal começou a ser
utilizada na Europa do século XV. Em seu texto A Gravura a pesquisadora Ligia Saboia nos deixa uma luz sobre as
primeiras gravações, “a primeira gravura em metal de que se tem notícia é
datada de 1446, intitulada Christ Crowned with Thorns. Alguns autores
consideravam que o inventor da gravura em metal foi o Mestre das Cartas de
Baralho, um joalheiro suíço”. As matrizes da gravura pode ser placa de cobre,
zinco ou latão. Estas são gravadas com incisão direta ou pelo uso de banhos
ácidos. Agua forte, agua tinta e ponta seca são as técnicas mais usuais. A
matriz é entintada e utiliza-se uma prensa para transferir a imagem para o papel.
Referências Bibliográficas
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