ESCULTURA



Nesta experiência, buscamos descrever através da imagem e da escrita, textos teóricos, relatos, anotações e diários, um trabalho prático de restauração e a sua metodologia de pesquisa. O texto faz parte do trabalho de conclusão da disciplina Escultura Policromada, na qual se restaurou uma escultura de um Anjo Querubim do século XVIII, procedente de um acervo museológico. Serão descritos os dados de identificação da obra, seguidos de sua análise formal, análise da técnica construtiva, análise estilística, análise iconográfica, análise do estado de conservação, proposta de tratamento, além dos procedimentos técnicos trabalhados. Abordaremos técnicas e materiais de cada etapa, iniciando com a fixação da camada pictórica, seguidos dos testes com solventes, limpeza química, remoção de repintura, consolidação do suporte, nivelamento, reintegração cromática e por fim o verniz. Iniciaremos como uma breve reflexão colocando alguns conceitos sobre restauro com o foco em questões inerentes a criação artística, tomando-o como fruto de uma prática cultural, e as relações estabelecidas junto ao coletivo. O trabalho aborda as estruturas pesquisadas e elaboradas a partir do processo de investigação na Fundação de Arte de Ouro Preto. Buscaremos embasar uma pesquisa em seus referenciais teóricos e seus procedimentos práticos, além de seu contexto e conteúdo histórico.




SUMÁRIO

Introdução
Conceitos Teóricos do Restauro
1.Dados de Identificação
2.Análise Formal
3.Análise Estilística 
4.Análise Iconográfica 
5.Análise da Técnica Construtiva
6.Análise do Estado de Conservação
7.Proposta de Tratamento
8.Tratamento Realizado
Considerações Finais
Bibliografia 







Introdução
           
O objetivo da pesquisa é descrever a investigação teórica e a restauração de uma escultura policromada e analisa-la no intuito de conhecer os procedimentos e os materiais utilizados no processo de criação da escultura, investigar e levantar as principais técnicas, quanto ao período e as formas de execução. 
No texto serão descritos os dados de identificação da obra, que aborda informações de sua origem, técnica, título, autor, etc. Seguidos da descrição física da obra, descrevendo a obra e seus atributos de forma detalhada. Posteriormente analisaremos a iconografia, buscando seu significado histórico-religioso e sua análise da técnica construtiva descrevendo a história e os materiais de construção do objeto, desde o suporte a camada pictórica. Na análise do estado de conservação, detalharemos todos os tipos de degradação. Em seguida, descreveremos a proposta de tratamento, além dos procedimentos técnicos trabalhados, referente à restauração da escultura Anjo Querubim. A peça se caracteriza pela cabeça alada de uma criança rechonchuda e de expressão calma e serena, a escultura é representada com dois pares de asas e com suas vestes pintadas da cor azul, representando a sabedoria.
            Documentou-se, além da escrita, registros fotográficos, os quais nos permitiram conhecer o estado de conservação da obra, desde a sua chegada, percorrendo pelo estado da obra durante todo o processo de intervenção, até a sua finalização.
            No texto introdutório estão destacados alguns conceitos sobre preservação, conservação e restauração e alguns autores reconhecidos nessa área, como Cesare Brandi, que aborda a restauração enquanto momento metodológico do reconhecimento da obra, buscando entender os conceitos trabalhados pelo autor, o qual menciona que os valores artísticos prevalecem sobre os históricos, de modo a adaptar as novas exigências e sem cometer uma falsificação artística tampouco uma falsificação histórica. Para tanto, elaborou-se um quadro histórico considerando as principais correntes teóricas da conservação. A abordagem teórica sobre tais conceitos terá como respaldo os teóricos Violletle Duc (2004), Ruskin (2004), Boito (2003) e Brandi (2005).
Dessa forma, a compreensão e reintegração da matéria trabalhada na restauração contribuirão para expor um conjunto de ideias e técnicas. Buscaremos embasar uma pesquisa em seus referenciais práticos, além de seu contexto e conteúdo histórico. Tomaremos como base de análise artigos científicos e acadêmicos, assim como os textos, Tecnologia de Douramento em Esculturas em Madeira, de Gilca Medeiros; Materiais Usados na Decoração de Esculturas em Madeira Policromada no Período Colonial em Minas Gerais, de Claudina Maria Moresi; e, Evolução da tecnologia de policromia nas esculturas em Minas Gerais no século XVIII, de Luiz de Souza. Sobre a abordagem iconográfica, autoria e atribuições versaremos sobre os livros de, Anjos Barrocos no Brasil (1995), de Eduardo Etzel; Anjos, Arcanjos e Querubins, de Beatriz Coelho e Marcos César de Senna Hill; Dicionário das Religiões, de  Mircea Eliade e Ioan P. Couliano; e, O Conceito de Barroco, de Arnold Hauser.
            A peça é originária do Acervo Museológico, pertencentes ao Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana. O Museu foi fundado em 1962 e o acervo existente na instituição foi trazido de paróquias, igrejas, capelas, seminários, do Palácio Episcopal, da Arquidiocese de Mariana. O acervo é composto por cerca de 2.000 peças, encontra-se separado por categorias, entre elas: escultura religiosa, pintura religiosa e civil, paramentos litúrgicos e objetos de culto religioso, além de louças, porcelanas, cristais. O prédio instalado o Museu, caracteriza por um edifício de arquitetura rococó cuja construção data do final do século XVIII e início do XIX. [1]

[1] Informações retiradas em http://www.museualeijadinho.com.br/?op=conteudo&id=62









1     Dados de Identificação

Título da obra:  Anjo Querubim
Autor:  sem referência
Dimensões: 58,50 cm X 38 X 14,50 cm
Técnica: Escultura em madeira dourada policromada
Época: Provavelmente século XVIII
Origem: sem referência
Procedência: Acervo Museológico
Proprietário: Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana
Data de entrada : 18/11/2014
Data de saída: 19/01/2016







Análise Formal

Escultura em madeira dourada e policromada. A peça se caracteriza pela cabeça alada de uma criança rechonchuda e de expressão calma e serena, a escultura é representada com dois pares de asas e com suas vestes pintadas da cor azul, representando a sabedoria. A figura se apresenta em posição frontal, com fisionomia serena e cabeça pendente para frente. Apresenta rosto arredondado; Olhos arredondados com os canais lacrimais bem marcados, semiabertos e voltados para baixo, sobrancelhas arqueadas com arestas ligando-as ao nariz afilado; boca pequena com lábios carnudos entreabertos e bochechas salientes; queixo bipartido e pescoço curto e largo. Cabelos curtos e estriados, distribuídas em mechas sinuosas e volumosas. Orelhas em “S”. Parte do tórax e ombros aparentes, o restante encoberto por um par de asas, simétricas e opostas, unidas ao centro e verticalizadas.



Análise Estilística
Quando falamos em escultura policromada em madeira, podemos analisar quatro categorias de imagem, escultura de talha inteira, escultura articulada, escultura de vestir e escultura de roca.
A peça provavelmente foi criada no final do século XVIII, pelas características apresentadas, pertence a um conjunto de retábulos, e pelas pesquisas realizadas de escultura em Minas Gerais não encontramos algo semelhante no estado, o que cria uma dificuldade para definirmos com precisão sua origem. O tipo de madeira (cedro vermelho), as características da talha, principalmente das asas e volutas e os traços indígenas do rosto, não nos deixam duvidas que esta é uma peça criada no Brasil. Dentre as pesquisas iconográficas de anjos em Minas Gerais do século XVIII, não encontramos referenciais com estas características indígenas de escultura. Nas produções do século XVII temos algumas referencias principalmente em São Paulo e sul da Bahia. Provavelmente o autor pertenceu a alguma oficina regional da época, comum no Brasil no século XVIII, e em Minas Gerais em particular, época em que foram proibidas as ordens religiosas[1] de se estabelecerem no território, propiciando o surgimento de uma escola com características próprias, adaptando materiais e técnicas da época[2], desenvolveu-se estilos e tipologias que apresentam policromia e douramento mais discretos, com certas padronizações de cores, se comparadas às escolas do mesmo período espalhadas pelo Brasil [3].
O uso de douramento nas asas em grande dimensão, deixa em evidencia um período de grande riqueza no período colonial do século XVIII. Esta técnica de ornamentação de douramento coincide com o mesmo período dos altares das igrejas em Minas, às vezes, totalmente coberto por folha de ouro, “no apogeu do barroco ibérico, retábulos integralmente dourados e de complexa estrutura ornamental demandarão esculturas de formas agitadas e douramento abundante” (OLIVEIRA, 2000, p.40).
Pelas características expostas, mesmo sem a referência da época em que foi criada, tem a tendência de ser uma peça estilística barroca provavelmente do século XVIII, pois os cabelos ondulados, a policromia, o douramento das asas e os olhos de vidros são características que se aproximam desta época, período em que buscavam uma maior aproximação do realismo do olho humano, o vidro tem o brilho e a translucidez que se aproxima da realidade. Segundo Etzel,

o Anjo chegou ao Brasil no começo do século XVII como figura exponencial nos retábulos de nossas igrejas coloniais. Desembarcou já barroco nas asas da fantasia dos artistas portugueses e aqui se implantou e se naturalizou agora na habilidade canhestra de nossos entalhadores que durante século e meio buscaram esculpi-lo acreditando na sua importância junto a corte celeste (1995, p. 11).

Com a expansão marítima, religiosa e visual, por parte das potencias europeias, o estilo barroco se espalhou por diversos países da América, seu desenvolvimento pleno no Brasil, se consolida no século XVIII, cem anos após seu surgimento na Europa. Segundo Hauser (1997, p.14) “o barroco abraça tantas ramificações de caráter artístico, aparece em tão diversas formas, nos diferentes países e esfera da cultura.” Com a circulação física dos colonizadores portugueses, leigos, religiosos e artistas, o barroco se modificava, novas formas eram incorporadas em sua criação, devido a esta maleabilidade de mudanças, o estilo ampliava o campo estético em que a contaminação de diferentes culturas foi fator de enriquecimento.
Para Hauser,
o barroco significa uma importante virada nas relações entre arte e o publico, nomeadamente o fim da “cultura estética” que começa com a renascença, e o inicio daquela distinção mais rígida entre conteúdo e forma, em que a perfeição formal já não serve de desculpa a qualquer lapso ideológico. (HAUSER, 1997, p. 43)

Nesse sentido, o barroco pode se caracterizar como uma junção de diversos dispositivos sociais, os quais se combinaram e influenciaram uma época,

marcado por um movimento permanente onde, no âmbito das artes plástica, temos de reconhecer a importância da luta de classes que vai caracterizando as mudanças de gosto e, a partir de dado momento, a acção interventiva dos produtores de imagens. (HAUSER, 1997, p.14)

No Brasil, os colonizadores portugueses não trouxeram nenhuma tradição firme, ou bem definida de organização social e planejamento urbano, o desenvolvimento se consolidou de maneira espontânea e brutal ao mesmo tempo, no âmbito das relações com os povos nativos. Os efeitos produzidos no período colonial foram de atrair interesses de diferentes países pela riqueza do território, estando sujeito a invasões, ameaças de invasões e pirataria.
Com a crise da igreja no século XVI, frutos da reforma protestante quando toma corpo em 1517, quando Lutero torna publica as 95 teses contra a igreja, as quais descrevia os caminhos corretos que a igreja deveria seguir. A contra a reforma da igreja em 1545 coloca a arte em jogo, defendendo que a arte tem uma função pedagógica, ela tem que ensinar, assim, o que deve ser produzido passa por uma avaliação, o que antes apoiava o homem ao centro, agora o coloca em fragilidade. O espirito de contradição empregado veio a refletir entre a virtude e o vício, o bem e o mal, o santo e o pecador, a igreja passa por um processo no que tange o celestial, colocando o homem em constantes crises. O barroco busca a adequação, a obra não busca mais o equilíbrio, a simetria esta em aberto, ela é a ação, o movimento, o momento, tem que estar enquadrada aos cânones padrões da igreja.







Fig. 8. Parte das asas. Observe os detalhes das folhas de ouro. Foto: Marcelo/2014




[1] Em Dicionários de Santos, Donald Attwater (1991, p. 7) define as ordens religiosas como sendo entidades tecnicamente divididas em ordens propriamente ditas, congregações e sociedades religiosas. Existem ainda várias subdivisões, inclusive seculares.
[2] Antes do século XVII, o suporte mais utilizado em escultura era o barro, posteriormente a madeira (Cedro) começou a ser empregada em todo o Brasil. Segundo Beatriz Coelho A maioria das imagens foi executada em madeira maciça, mas há também esculturas ocas em grande quantidade.  (COELHO, 2006, p. 733).
[3] Segundo Miryam de Oliveira (2000, p. 49)  espalhado pela imensa costa brasileira, de Belém do Pará a São Vicente, colégios e residência jesuítas, conventos franciscanos e carmelitas e mosteiros beneditinos constituem então núcleos autônomos de produção cultural, com o objetivo primordial de conquistar as populações indígenas para o Cristianismo e manter viva a fé nos colonos portugueses. 





Análise Iconográfica
A Iconografia faz parte da história cultural, está associada ao conteúdo e à forma de representação, tem-se uma ligação entre a imagem e o significado que indique uma mensagem e uma narrativa. A análise iconográfica não hierarquiza uma ou outra imagem, elas são colocadas por igual. Nesse âmbito, Louiz Réau (2005, p. 68) afirma que “as lendas apócrifas não possuem menor valor que as representações conformes aos textos canônicos, por menor que seja a quantidade de imagens que elas engendraram”.   
O autor coloca que a iconografia não é teologia ou catecismo da imagem. Para o iconógrafo o valor estético é destituído, e todas as fontes de informações são importantes para o estudo, assim como os estudos apócrifos, relatos orais, a bíblia, a hagiografia, a literatura, a música e diários, são fontes de extrema importância em uma análise iconográfica.
Para Louiz Réau (2005) “a obra de arte não é somente uma combinação de formas, superfícies e cores, mas, a ilustração de um pensamento forma e conteúdo, são um todo que não se pode dissociar sem torna-lo ininteligível”.
Sendo assim, em um mundo que não pára de se ver, a imagem ocupa um lugar privilegiado, assim como qualquer texto, a imagem permite atingir diversos graus de acessibilidade, de acordo com a ilustração e cultura do receptor[1].
Na iconografia cristã, a arte esta ligada ao ícone, a imagem em si é sagrada e desperta a fé para os fiéis, motivando seu comportamento social, segundo Réau (2005) “seu fim não é o deleite, mas o ensino das verdades professadas pela igreja”.
Na pesquisa iconográfica em questão, o Anjo Querubim, geralmente é representado como uma criança rechonchuda com dois pares de asas. A origem do conceito de anjos têm seus primórdios nas religiões próprias no antigo oriente na Mesopotâmia, Babilônia e Israel. A ênfase esta no conceito celestial e de divindade, que enviavam mensageiros para comunicar a mensagem divina aos seres terrestres. Segundo Etzel,
As criaturas sobrenaturais habitam este mundo desde tempos imemoriais. Pelos estudos arqueológicos podem ser rastreadas até as religiões assírias, persas e babilônicas, de onde passam agora como anjos, para crença dos hebreus, estendendo-se depois para mais religiões dela derivadas, como o cristianismo e Islamismo. (ETZEL, 1995, p.13)

A construção da imagem é a base estrutural religiosa do cristianismo, e passa a fazer parte do culto cristão por seu caráter pedagógico. A imagem põe na visualidade o que as palavras trazem nas ideias.
A devoção aos anjos se difundiu através dos séculos, tanto os judeus, cristãos e os mulçumanos acreditam em anjos e querubins, mas é no cristianismo que são mais populares. Nas escrituras antigas, os anjos e querubins não são descritos como criaturas com asas, este pensamento só veio a ser conhecido no século V, quando os artistas os representavam com as asas. Representar os anjos era um desafio para os artistas encontrar formas apropriadas, pois nas escrituras eles não são descritos tendo um sexo em particular, nem enquanto a aparência e idade.

Os seres alados da antiguidade exprimiam a síntese da experiência humana no tato com a natureza. O aspecto religioso estava entrelaçado com o lado prático da luta pela sobrevivência. Assim, a presença de asas exprimia a fecundação porque era patente que os pássaros fertilizavam as árvores, enriquecendo-as de frutos. A tamareira, com suas tâmaras, era fonte importante de alimentação dos nômades e eram águias e os abutres que, pousando nas palmeiras, tinham suas asas carregadas do pólen que espalhavam, fertilizando as flores. A abundância destes pássaros coincidia com grandes colheitas. (ETZEL, 1995, p. 15-16)

Em uma das interpretações sobre esses seres, os querubins seriam anjos, ou animais em segundo plano, na hierarquia celeste. De modo geral, querubins é a cabeça, alada ou não, da criança rechonchuda e expressão calma e serena, são representados com dois pares de asas e geralmente a cor de sua veste são pintadas de azul, representando a sabedoria. Segundo Etzel,

o que caracteriza o querubim clássico é a exuberância das bochechas que, expandindo-se, afundam as órbitas e o nariz, ao passo que o tecido compacto e fixo do mento se torna bem delimitado e saliente. É a visão exagerada da criança sadia que até poucos anos atrás esteve ligada ao desenvolvimento adiposo (ETZEL, 1995, p.38).
A tradição cristã declarava que os anjos eram espíritos puros, sem corpo. Como eram espíritos puros deveriam estar acima das especificações dos gêneros, no entanto, a tradição acabou representando-o através de uma forma física. Para Etzel,

A figura do animal alado de cinco pernas de Khorsabad, na Assíria, e pela esfinge do Egito com o corpo de leão, asas e cabeça humana, também encontrada em escavações realizadas em Taanach e Megildo, na Palestina. A estes seres alados mitológicos os hebreus chamavam “cherub”, e no plural “cherubim”. Nas escavações arqueológicas ficou provado que o “cherub” é de origem anterior aos hebreus. Estava presente na antiga assíria.  (ETZEL, 1995, p. 14, 15)

Na Assíria, o querubim tem a expressão que designa um touro alado, o que indica a apropriação da tradição cristã primitiva, os símbolos angelicais dos evangelistas, tinham a forma de animais. O cristianismo definiu o rosto dos querubins de Ezequiel, profeta do antigo testamento, sendo os evangelistas simbolizados, onde o homem torna símbolo de São Mateus, o boi de São Lucas, a águia de São João e o Leão de São Marcos. Estes autores dos evangelhos são os mensageiros que transmitem as boas novas de cristo no novo testamento.
Às vezes o mensageiro era assustador, Ezequiel teve a visão de quatro criaturas vivas que emergiram das chamas. Essa criatura tinha mais de uma cabeça, várias asas e era um misto de animais e humanos, eram os querubins, um ser de criatura celestial, os querubins foram interpretados de diversas formas.
 No inicio do século VI, havia heresias nas idéias cristã, e precisavam ser corrigidas. Um teólogo do século VI, São Dionísio, o primeiro a construir uma teologia fora da bíblia sobre os anjos, descreve as hierarquias Celestiais dos anjos. Segundo Dionísio, a classificação tem nove coros angelicais[2]. Os primeiros constituídos pelos Serafins, Querubins e o Tronos, eram as classes mais altas de anjos, e sua função era servir Deus. Ezequiel fala sobre Querubins que transportam Deus. O segundo coro era composto por Domínios, Virtudes e Poderes, eram responsáveis pela ordem do universo, o que estava por debaixo de Deus. O terceiro coro era formado pelos Principados, Arcanjos e Anjos. Deste modo, o primeiro coro é composto por seres divinos, o segundo dirigem as forças da natureza e do destino, e o terceiro cuida da humanidade.
A Bíblia fala pouco dos anjos, em suas passagens, relatam que fazem companhia a Deus. Os anjos e querubins foram revelados a 12 séculos em seus mosaicos, pinturas e esculturas. Na classificação bíblica, existe o líder dos anjos que é o Filho de Deus. Ele tem o título de arcanjo e o nome pré-messianico de Miguel (Daniel 12:1-3). Depois a bíblia cita os Serafins  (Isaias[3] 6:2) e os Querubins (Ezequiel[4] 1:11). Mas ela não indica qual categoria é a mais nobre. A bíblia fala de anjos (mensageiros) no plural. São sete os enviados a terra (Hebreus[5] 1:6 e 14). A bíblia fala dos 24 anciões que são ministros especiais de Deus (Apocalipse[6] 4:10).
Embora a bíblia relate que existam Serafins e Querubins, ela não deixa nenhuma informação sobre eles. Essa classificação esotérica católica sobre os anjos teve como referência fora da história judaica e cristã, foi no paganismo que vemos sobre cada categoria angelical, como se fosse uma verdadeira mitologia[7].
Os anjos maus surgem ao longo da história judaica e cristã. No paganismo os anjos eram apenas os seus mensageiros.  Quando os cristãos começaram a pensar em anjos bons e maus, utilizaram a palavra demônios para os anjos maus, porque eram anjos dos pagãos e anjos para os seus próprios anjos, os bons.  O diabo era um anjo, um anjo muito importante, Lúcifer, o portador da luz, ele tem todo o dom de inteligências, vontade e poder espiritual. A contradição de Lúcifer é seu desejo de ser divino. Nas escrituras, Lúcifer enfrentou o senhor, foi vencido e lançado a terra, isso fez deixar de ser um anjo importante e passar a ser o demônio.
A guerra dos anjos é retratada com uma batalha de lanças e espadas, não é considerada uma batalha entre o bem e o mal, é uma guerra meramente intelectual e espiritual. A igreja sempre foi capaz de absorver e assimilar elementos de outas tradições e representações mitológicas e religiosas.
Em textos sagrados e escrituras antigas, encontramos afirmações de que os anjos regem a alma nos atos das pessoas, ou que os deuses exercem influencia sobre o homem. Ensinamentos espirituais e científicos mais antigos possuíam uma visão de que as hierarquias dos deuses como os anjos, arcanjos, querubins e serafins são as hierarquias dentro da psique humana.
Desse modo, quando a maior parte dos mitos antigos e escrituras sagradas falavam de influencia espiritual de um ser superior, elas estavam falando de forças arquetípicas que nos são inerentes.
A seguir, algumas representações de Anjos e Querubins em igrejas de Minas Gerais, nas quais nota-se a presença de elementos iconográficos acima citados:










Fig. 13. Catas Altas-MG. Igreja Matriz. Retábulo lateral da igreja. Uma composição em profusão, com diferentes estruturas de talha, mas sempre obedecendo às semelhanças do estilo barroco. [12]






Fig. 14. Caraça-MG. Santuário. Interior. Detalhe do vitral. Querubins rodeiam a figura central. [13]






Fig. 15. Caraça-MG. Santuário. Interior. Notar os vitrais                 Fig. 16. Detalhe do vitral. Querubins rodeiam a              
ao fundo em conjunto com o estilo neogótico. [14]                               figura central. Notar as cores. [15]
       
     




   Fig. 17. Santa Barbara-MG. Igreja Matriz.                        Fig. 18. Santa Barbara-MG. Capela-mor. [16] Pintura no Forro de Ataíde. Notar os querubins ao fundo. [17]






[1] Conforme Daniel Kidder, (1972p. 40) apud Oliveira (2000, p. 38), “as imagens não foram introduzidas na Igreja sem causa razoável. Elas derivam de três causas: a incultura dos simples, a frouxidão dos afetos e a impermanência da memória. Elas foram inventadas em razão da incultura dos simples, que não podendo ler o texto escrito utilizam as esculturas e pinturas como se fossem livros para se instruir nos mistérios de nossa fé. Da mesma forma, elas foram introduzidas em função da frouxidão dos afetos para que aqueles cuja devoção não é estimulada pelos gestos de cristo recebidos por intermédio dos ouvidos sejam provocados pela contemplação dos olhos do corpo em sua presença nas esculturas e pinturas, já na realidade o que se vê estimula mais os afetos do que se ouve...Finalmente por causa da impermanência da memória, já que o que se houve é mais facilmente esquecido do que se vê...Assim, por um dom divino, as imagens foram executadas nas igrejas para que vendo-as lembremos das graças que recebemos e das obras virtuosas dos santos”.
[2] Informações retiradas: www.cleofas.com.br/a-hierarquia-dos-anjos/
[3] Informações retiradas: www.bibliaon.com/versiculo/isaias_6_2/
[4] [4] Informações retiradas: www.bibliaon.com/versiculo/ezequiel_1_11/
[5] [5] Informações retiradas: www.bibliaon.com/versiculo/hebreus_1_6/
[6] [6] Informações retiradas: www.bibliaon.com/versiculo/apocalipse_4_10/
[7] Em seu livro Mito e Realidade, Mircea Eliade (1972, p.11) define-o “mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do “principio”. Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo pelo que fizeram no tempo prestigioso dos “primórdios”. Os mitos revelam, portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente a “sobrenaturalidade”) de suas obras. Em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções do sagrado (ou do sobrenatural) no Mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente fundamenta o Mundo e o converte no que é hoje. E mais: é a razão das intervenções dos Entes Sobrenaturais que o homem é o que é hoje, um ser mortal, sexuado e cultural”.
[8] Fig. 10. Imagem fotografada em visita Técnica Cultural em 2014, pela turma XXXIII da FAOP.
[9] Fig. 9. Idem
[10] Fig. 11. Idem
[11] Fig. 12. Imagem fotografada em visita Técnica Cultural em 2014, pela turma XXXIII da FAOP
[12] Fig. 13. Idem
[13] Fig. 14. Idem
[14] Fig. 15. Imagem fotografada em visita Técnica Cultural em 2014, pela turma XXXIII da FAOP.
[15] Fig. 16. Idem
[16] Fig. 18. Idem
[17] Fig. 17. Idem





Análise da Técnica Construtiva
A imagem aqui analisada, apresenta a técnica de escultura em madeira entalhada dourada e policromada, composta por dois blocos, um compondo a cabeça, pescoço, asas e a parte inferior, o outro bloco para voluta na parte inferior da base, com ornamentos e renda dourada na altura do peito. A sua criação, consistiu em duas técnicas diferentes, uma delas o responsável é o escultor, o qual trabalhou a madeira, e consequentemente criando suas características próprias. E a outa técnica é a da policromia, que o executor fica com a incumbência de aplicar a técnica da justaposição, a qual consiste na camada de preparação, bolo armênio, folhas metálicas e camadas de tinta, e por fim, o verniz ou a veladura, buscando um maior realismo a imagem.
A técnica utilizada nesta peça revela um domínio dos materiais empregados. Esta obra aparenta ser feita por uma única mão, pois seu entalhamento apresenta um equilíbrio na composição, o tratamento dado aos cabelos é realizado com muita simetria e bem distribuído suas mechas e volumes.
A colocação dos olhos de vidro teve como técnica o corte na cabeça da escultura, sendo a face separada; um dos cortes passa por cima da cabeça e outro por baixo do queixo. A região da órbita ocular foi escavada em direção a pálpebra e assim vazada para colocação dos olhos. Esta área oca no interior da cabeça foi estendida sua escavação em direção ao nariz e boca, pois se observa a profundidade do nariz e da boca entreaberta.
A Camada Pictórica é composta por base de preparação (carnação) da cor branca e provavelmente coberto com tempera. As asas e a faixa envolta nos cabelos aparenta ser cobertura com folha de ouro, e na parte inferior, douramento e policromia em tons vermelho e azul. Cabelo castanho escuro, com técnica à tempera coberto com verniz.



             Fig. 19. Detalhes do corte no rosto para                                 Fig. 20. Detalhes do corte na cabeça.
                       colocação dos olhos de vidros.                                          Fig. 21. Detalhes da profundidade da boca.
                                 Fotos: Marcelo/2014



   Fig. 22.  Notar lacunas no rosto.                                   Fig. 23. Perdas da camada pictórica. Fotos: Marcelo/2014 





Análise do Estado de Conservação
Suporte: Estado de conservação regular.
- Sujidade aderida e acumulada;
- Fragilidade no encaixe dos blocos, com pequenas perdas de suporte nesses locais;                                                                        
- Perda de suporte na parte superior esquerda;
- Rachadura e fragilidade no encaixe;
- Presença de orifícios provocados por intervenções inadequadas;
- Intervenção inadequada na parte posterior;
- Oxidação causada por elementos metálicos;
- Presença de pregos.


Camada pictórica: Estado de conservação regular.
- Sujidade aderida e acumulada (poeira, excrementos e restos de insetos, respingos de resina);
- Craquelês no douramento;
- Perda de policromia pontualizada;
- Presença de adesivo;
- Repintura na carnação e cabelos;
- Oxidação ao redor dos orifícios;
- Verniz oxidado.


Sobre as deteriorações na escultura, observou-se que em partes das asas apresentam craquelês no douramento, provavelmente decorrentes de umidade e temperatura elevada, o que ocasionou nas camadas de folha de ouro o ressecamento, e consequentemente, o craquelamento. Na técnica de fixação do rosto, para a colocação dos olhos de vidro, a impregnação de cera ocasionou um maior acumulo de sujidade, provocado por intervenções posteriores a criação da peça, inadequadas, fato também constatado na parte dos cabelos, onde se encontrava com abrasionamentos e sujidades.
















Proposta de tratamento
A proposta de tratamento baseou-se no estado de conservação da peça e no interesse em sua melhoria estética. Buscou-se preservar sua integridade física quanto ao uso de solventes na limpeza química. Para a restauração da peça, realizaremos:

Suporte:
- Limpeza mecânica;
- Complementação de partes faltantes;
- Remoção da intervenção inadequada na parte posterior;
- Abertura de galerias;
- Desinfestação;
- Imunização preventiva nos orifícios;
- Enrijecimento;
- Reestruturação dos encaixes fragilizados;
- Consolidação.

Camada Pictórica:
- Fixação da policromia;
- Limpeza mecânica;
- Abertura de janelas de prospecção;
- Testes de limpeza química e de solubilidade;
- Refixação da Policromia;
- Remoção do verniz oxidado;  
- Remoção de repintura;
- Nivelamento;
- Aplicação de verniz de saturação;
- Reintegração cromática;
- Aplicação do verniz de proteção.


Observações das propostas de tratamento

Nas análises realizadas para alcançar as propostas, observamos que a camada pictórica da escultura apresenta ornamentações executada com a técnica de douramento e camadas de acabamento com verniz. Entendemos o cuidado no procedimento de limpeza química na remoção do verniz, assim, tentou-se não prejudicar a camada original da policromia. A partir das pesquisas químicas de Liliane Kleiner, a qual selecionou 23 tipos de solventes e misturas que apresentam diferentes fórmulas em procedimentos de restauro, pesquisamos os quais apresentavam melhores resultados na limpeza superficial, e se necessário, os solventes para a eliminação de verniz resinoso e de repintura resinosa. Investigamos inicialmente outros trabalhos sobre policromia, onde buscou-se conhecer os materiais sugeridos na sua formulação e o modo de aplicação, levando em conta a evaporação, retenção e a penetração.


Tratamento Realizado

Após recebermos a peça, a primeira etapa realizada foi o preenchimento da ficha de identificação da obra, além do registro fotográfico os quais nos permitiram conhecer em detalhes o estado de conservação da obra, desde a sua chegada, percorrendo pelo estado da obra durante todo o processo de intervenção, até a sua finalização.


Fixação da camada pictórica
Com o objetivo de não ter mais perdas na camada pictórica, realizou-se a fixação da camada pictórica. No procedimento utilizou-se álcool etílico, cola de coelho e pedaços de filme de poliéster. Com o auxilio de um pincel fino, com cerdas macias, aplicou-se o álcool etílico (Fig. 33) com a função de relaxar as fibras para posteriormente aplicar o adesivo. Em seguida, aplicou-se a cola de coelho a 10% diluída em agua deionizada e aquecida em banho-maria, para fixar a policromia. Após a fixação, com o auxilio de um filme de poliéster (Fig. 34), pressionou-se levemente para a acomodação da camada pictórica.



Limpeza Mecânica

Realizou-se a limpeza mecânica com o auxilio de trinchas e pincéis de cerdas macias. Iniciou-se o procedimento na parte superior para a inferior da imagem. 




           Abertura de Janelas de Prospecção
Com o objetivo de investigar a camada pictórica da imagem, realizou-se na carnação,  cabelo e parte azul, janelas de prospecções. Na abertura da janela, buscou-se analisar a leitura a partir das perdas. As camadas foram abertas em lugares discretos, de baixo interesse, buscando verificar caso tenha repintura.

No rosto ao lado direito (Fig. 35 e 36) observamos que o verniz se encontra oxidado e constatamos ser repintura, tanto na carnação quanto no cabelo. Na parte inferior azul (Fig. 36.b.) o verniz encontra-se oxidado. Removemos o verniz oxidado com limpeza química, onde testamos a lista de solvente de Liliane Kleiner, para assim escolher o solvente que tenha uma compatibilidade na retirada do verniz.




Através deste procedimento, das aberturas de janelas de prospecção, constatamos que no cabelo a tinta é de repintura, então, decidimos remover a repintura, inicialmente com solvente, em seguida com o bisturi.



Na carnação também encontramos repintura, mas devido a repintura ser a tempera, o procedimento de remoção, poderia acarretar em remover também a camada original, então decidimos tirar apenas o verniz oxidado.
Este tipo de intervenção deve ser pensado e discutido seus procedimentos técnicos e teóricos pelo restaurador, no caso desta obra em particular, fazer parte do estágio curricular do curso, discutiu-se entre professores, alunos e técnicos, buscando uma justificativa a ser adotados com vista a devolver ao objeto sua integridade física, estética e histórica. Como afirma Brandi os valores artísticos prevalecem sobre os históricos. Para Brandi, (2005, p. 33) “A restauração deve lograr o restabelecimento da unidade do bem cultural, sempre que seja possível alcançá-la sem cometer uma falsificação artística nenhuma falsificação histórica e sem apagar as marcas que são testemunhas do seu tempo de vida”
Este dois conceitos, o de ter consciência de seu tempo e no objeto intervir, são questões debatidas pelo restauro há décadas, e nos guiaram para servir de base teórica para a reflexão sobre a intervenção do restaurador em uma obra, com vista em uma clara fundamentação teórica do problema, com seus conceitos e técnicas aceitáveis dentro da ciência da restauração, de modo que a obra possa ser vista e estudada como um todo, sem a interferência dos danos. Sendo assim, os posicionamentos defendidos pelas formas de pensar a conservação-restauração e seus critérios de intervenção, tendem a ampliar os conceitos frente às novas fases cientificas e culturais no mundo contemporâneo, uma vez que o trabalho interdisciplinar do assunto envolve diferentes campos do conhecimento, assim como os estudos técnicos, cientifico, histórico, formais, iconográficos e estilísticos.

A Re-fixação da Camada Pictórica
Após dois meses sem contato com a obra, devido ao recesso de fim de ano, fez-se necessário outra limpeza mecânica, iniciamos a limpeza com o auxilio de uma trincha, em seguida, a refixação da policromia, pois havia alguns pontos em que a policromia estava frágil. Após esta constatação realizamos a re-fixação em todas as partes onde a policromia poderia se soltar.

Limpeza Superficial e Química
Após esta segunda etapa da refixação da policromia, iniciamos os testes de solubilidade. Nestes testes de limpeza, seguimos a lista dos solventes químicos utilizados na conservação pela pesquisadora química Liliane Klainer.
A limpeza da obra é sempre um procedimento delicado, pois envolve riscos irrecuperáveis ao equilíbrio adquirido ao longo de sua existência. Em seu texto Observações sobre a utilização dos solventes na conservação[1]. Liliane Klainer coloca os principais critérios adequados na utilização dos solventes, e chama nos a atenção para “seu poder de penetração, quantidade e duração de retenção nos corpos porosos e seu poder solvente ligado às interações específicas que eles podem estabelecer com os solutos.” Assim, Liliane Klainer desenvolve uma tabela com informações da mistura dos solventes em proporção, penetração e categoria, sendo uma referencia nos procedimentos em restauro, e os quais seguimos em cada processo realizado, desde a limpeza superficial, eliminação do verniz resinoso da carnação, parte inferior azul e eliminação da resina no pescoço e cabelo.

Limpeza Química – Pesquisa dos solventes em cada parte da obra
Os primeiros testes foram realizados (Fig. 37) a base de água deionizada EDTA-Ácido etilenodiaminotetracético (sal dissódico) a 2%, 4% e 6%, seguido do aguarrás (método swob) a fim de promover a rinsagem. Observamos que o EDTA remove apenas a camada superficial da sujidade aderida, sendo assim, testamos outros solventes com mais teor de ação. Então, testamos os solventes da lista com a nomenclatura Limpeza Superficial, em seguida, Eliminação de Verniz Resinoso e por fim testamos Verniz Resinoso em Camada Espessa.




[1] Informações retiradas do texto: KLEINER, Masschelein. Observações sobre a utilização dos solventes na conservação. 1981. In: Apostila do Curso Técnico de Conservação e Restauração de Pintura de Cavalete III, 2015.





Nos testes com os solventes, buscou-se não realizar uma aplicação e remoção forçada na obra, sempre se tentou controlar a quantidade de solvente embebido no swob, para não afetar a obra, e após cada teste, aplicávamos aguarrás para amenizar o efeito químico do solvente. Em cada procedimento realizado, colávamos o swob em uma tabela (Fig. 39) para assim, realizar o mapeamento do processo (Fig. 40) dos solventes com resultado satisfatório. Nas partes que não tem repintura, como na carnação, asas e parte inferior azul, paramos os testes no solvente 11.




Limpeza Química do Cabelo
Iniciamos os testes com os solventes químicos menos tóxicos, a base de água deionizada e EDTA. No cabelo, optou-se inicialmente em realizar a limpeza com o EDTA a 6%, por seu composto químico ser menor. Nesta etapa, parte do cabelo é a que se encontrava com mais sujidade, devido a facilidade de acumulo de poeira aderidas de excrementos. Durante a limpeza, em uma das partes centrais, percebeu-se que abaixo a sujidade e a tinta azul, havia a cor marrom, constatamos então que o cabelo era a única parte da obra a qual tinha repintura.
Para a remoção da repintura do cabelo, foram testados os solventes 2A; 3 A;  e os solventes 15 composto por Tolueno + DMF (75:25); 16 (Tricloroetano+Diacetona+Álcool - 75:25); 17 (Tricloroetano + DMF  - 50:50);  e 18 (Acetato de Etila + DMF - 50:50).  O solvente que obteve resultado satisfatório foi o solvente 18 (Acetato de Etila + DMF - 50:50) utilizou-se o solvente embebido com swob e com o auxilio do bisturi.

O trabalho de eliminação da repintura com o bisturi foi uma escolha que permitiu a não utilização de excesso de solvente na obra. A duração para a retirada da repintura do cabelo teve em torno de umas 12 horas no total.  Estávamos cientes que era um trabalho demorado e delicado, pois a pintura original do cabelo é a tempera, por isso, muito frágil.




Limpeza Química da Carnação

Na carnação, iniciamos a limpeza com o EDTA 10% diluído em agua deionizada,  o que permitiu realizar uma limpeza menos agressiva nesta primeira camada de sujidade da obra. Nos testes para a remoção do verniz, na carnação abaixo ao queixo, observamos que o solvente 13 (Tolueno + DMF - 75:25) reagiu com maior eficiência se comparados aos testes com os solventes 15 composto por Tolueno + DMF (75:25) e 16 (Tricloroetano+Diacetona+Álcool - 75:25) com o método swob o procedimento eliminava pouco o verniz, então optamos pelo solvente 9 (Isooctano+Éter+Etanol - 55:15:30). Nas áreas onde o verniz se encontrava mais oxidado, como no rosto e pescoço, testamos o solvente 12 composto por  Dicloroetano+Metanol (50:50) o qual não obteve resultado satisfatório, então optamos em retirar o verniz com o solvente 9 composto por Isooctano+Éter+Etanol (55:15:30) com o auxilio do bisturi.





Na remoção da resina utilizada para a fixação do rosto, realizamos o teste com o solvente 13 (Tolueno + DMF - 75:25), o qual não obteve resultado satisfatório, então testamos o solvente 15 (Tolueno + DMF - 75:25), havendo um bom resultado.


Limpeza Química das Asas
Em uma primeira limpeza, o solvente 13 (Tolueno + DMF - 75:25) eliminou boa parte da sujidade aderida, porém, nas partes onde as camadas de resinas estavam mais grossas, retiramos com o solvente 9 composto por Isooctano+Éter+Etanol (55:15:30). O solvente foi aplicado com swob e os resíduos de sujidade aderida foram removidos com bisturi.  





Limpeza Química da parte inferior azul

Como a camada do verniz era a mais oxidada da obra, o que melhor obteve resultado satisfatório foi o solvente 9 (Isooctano+Éter+Etanol - 55:15:30). Durante os procedimentos, percebemos que o solvente eliminava muito pouco o verniz, então, optamos em utilizar o solvente para absolver o verniz, em seguida promoveu a remoção mecânica, com o auxilio de um bisturi.



Observação dos procedimentos com solventes

De modo geral, os solventes não atenderam a demanda das quatro partes da obra (carnação, cabelo, asas e parte inferior azul) de forma satisfatória. Assim, optamos em utilizar menos solventes e mais o trabalho com o bisturi. Avaliamos que esta iniciativa contribuiu para não haver nenhuma reação química na obra, apesar do trabalho de remoção do verniz oxidado e da repintura ter demandado um maior tempo, por conta do próprio processo de eliminação lenta que é a remoção com o bisturi. Observamos que para cada área especifica o solvente difere seus efeitos químicos.

           Remoção dos Elementos Metálicos
Antes da remoção dos elementos metálicos, aplicamos o álcool etílico para obter um relaxamento das fibras (Fig. 50) do suporte.
Na remoção da chapa de ferro oxidado no verso da obra, observamos uma aderência resistente dos pregos oxidados na madeira, o que ocasionou uma maior dificuldade na retirada, na remoção realizamos leves movimentos com uma chave de fenda e um alicate, permitindo uma flexibilidade dos pregos na sua retirada.



Imunização Preventiva

Realizamos a imunização com o objetivo proteger a madeira contra futuros ataques de insetos xilófagos. Assim, utilizou-se Termidor® a 5% diluído em aguarrás e aplicado com o auxilio de pincel e seringa. Aplicamos em todas as galerias e orifícios da obra.


Enrijecimento do suporte
O enrijecimento do suporte tem a função de tornar o suporte mais resistente. Realizamos o enrijecimento, aplicando a resina sintética Paraloid[1] a 5% diluído em xilol, aplicado com o auxílio de um pincel de cerdas macias.



[1] O Paraloid é uma resina sintética bastante recomendada nesse procedimento por ser estável, durável, ser compatível com diversos materiais, não amarelável; não estar sujeita a ataques de microorganismos e ter pH neutro.



Massa de Obturação
A massa de obturação é utilizada na restauração em pequenos orifícios, galerias, rachaduras no suporte na madeira, geralmente causados por ataques de insetos xilófagos, impactos, pregos, cravos, objetos cortantes, pontiagudos, etc. Os materiais utilizados variam em cada técnica e período, buscando a compatibilidade de materiais, resistência, peso, aplicabilidade, aglutinação, retratabilidade e toxidade.
No processo de preparação da serragem fina, antes de colocar o aglutinante, passou-se um imã na serragem, para assim, tirar possíveis fragmentos da lâmina de corte da madeira, em seguida, peneirou-se a serragem.
Para o preenchimento dos orifícios da madeira de 5 a 10 cm é aconselhável utilizar serragem grossa a qual facilita a secagem, sobrepondo à serragem fina, camada após camada, variando com o nível de secagem. A massa de obturação tem que ficar no nível do suporte e não da camada pictórica. Durante o preparo da massa, apertá-la para evitar possíveis orifícios e bolhas. Quando necessário utilize um palito pontiagudo para ajudar no processo de secagem.

No procedimento de consolidação da escultura, optou-se por fazer a massa de obturação utilizando como aglutinante o PVA+ água deionizada (1:1) e como carga, utilizou-se o pó de serragem.



Observações
Através do resultado do procedimento utilizando massa de obturação, pode-se perceber que a resistência mecânica varia conforme o tamanho da galeria. Em uma galeria profunda, é aconselhável optar em trabalhar com uma massa macia, do contrário a massa pode vir a sofrer contrações, podendo rachar. Neste caso utilize uma massa mais rígida, o que ocasiona a não flexibilidade.
Durante o preparo da massa, não colocar muito aglutinante. Buscar equilibrar, não deixar pastoso e nem pulverulento. Os aglutinantes de cola de coelho e serragem são materiais orgânicos. Na utilização desses materiais, é fácil eles sofrerem proliferação de micro-organismo. No trabalho da restauração optar por produtos industrializados, como por exemplo, os aglutinantes de base sintética.

Desmonte - olhos de vidro

Com a deformidade do encaixe da face, foi preciso realizar a separação da mesma, pois além da resina do encaixe estar ressecada, a possibilidade de se soltar era grande. Então realizou-se a reestruturação dos olhos de vidro, evitando assim um possível deslocamento do olho. Neste procedimento é preciso fazer o desmonte para poder avaliar o consolidante interno dos olhos de vidro, e assim, realizar a limpeza das duas rachaduras do bloco, para em seguida reestruturar adequadamente o encaixe. Na técnica construtiva da peça os pregos encontrados foram colocados com o objetivo de reestruturar as duas faces. Na face, a peça tem a reencarnação, a carnação original da tinta, a base de preparação e o suporte.


O procedimento utilizado no desmonte da face foi realizado com a técnica reformig (Fig. 61), aplicado com seringa e agulha. Utilizou-se no deslocamento o dimetil de formamida, por não ter uma evaporação rápida, sem contar que o poder de decapagem para esse tipo de adesivo é melhor. A acetona é eficiente neste processo, mas evapora muito rápido, dificultando o trabalho mecânico, tendo que aplicar mais de uma vez, levando mais adição de químico para a obra.

Ao realizar o procedimento com a técnica reformig, sempre se utiliza o solvente da categoria dos decapantes. Vem em primeiro lugar a acetona, seguida do Metil de Formamida e por ultimo a Amônia.



Utilizou-se na aplicação o Metil de Formamida, a reformig tradicional aplicado em compressa de algodão. Aplicou-se o algodão no espaçamento de uma face para outra, em seguida aplicamos com uma seringa o dimetil de formamida, até promover o encharcamento do algodão. (Fig.63)


                  Limpeza da cera interna da face

            O procedimento técnico utilizado no adesivo  impregnado da parte interna da face,  foi realizado com a técnica reformig, aplicado com seringa e agulha (fig.69, 70), em seguida, retirada a cera e resquícios da madeira com uma espátula e bisturi. E a limpeza da cera no interior da face, limpou-se com ácido acético.





Tratamento da cera que fixa os olhos

No tratamento realizado na cera utilizada para a fixação dos olhos, realizou-se o enrijecimento da parte interna. Aplicou-se uma massa (carbonato de cálcio e resina de paraloid - diluído em xilol a 5%) utilizada em situação em que a peça esta com problema de absorção de umidade. A massa tem o objetivo consolidar a cera/resina usada para fixar os olhos de vidro.



Após aplicação, observamos que a resistência da massa estava pulverulenta, então realizamos a retirada da massa, e aplicamos a massa com a resina de paraloid a 15%, diluído em xilol.
           
            Reestruturação do bloco da face

            No interior das duas faces da cabeça, a peça recebeu uma camada de PVA em cada superfície, aguardando a secagem. (Fig. 76).  Após a secagem, foi aplicado uma camada de massa de obturação preparada com pó de serragem e PVA puro. (Fig. 78)





Na outra parte da face, recebeu uma segunda camada de PVA e colou-se a outra face, sempre observando o eixo de encaixe das duas faces, em seguida para as partes ficarem fixadas, foi colocado um garrote com uma goma de borracha, após esta fixação esperamos um período de 48 horas em processo de secagem, com a pressão da goma de borracha.

 Antes deste procedimento, observamos se a camada pictórica não corria perigo de desprender com a pressão da borracha. Antes de retirar a borracha, colocamos as cavilhas de madeira araçá (fig.82,83,84) nos mesmos orifícios onde saíram os objetos metálicos dos quatro cantos da cabeça.
O objetivo de colocar a massa de obturação no bloco partiu das irregularidades dos dois blocos da face, tendo a impressão de uma quebra. Provavelmente, para a colocação dos olhos de vidro, o escultor utilizou a técnica da estalagem, que consiste em rachar o bloco da madeira no sentido da fibra, fato percebido quando separamos as duas faces e observamos as irregularidades da madeira de uma face para outra.



              Reestruturação do suporte


            Realizamos a reestruturação do penacho na região superior da parte de traz da cabeça. Foi reestruturado com PVA e recebeu duas cavilhas (madeira de cedro) de pressão, para assim ter uma estabilidade maior (fig.87).



           Complementação do Suporte         
Foram realizadas complementações pontualizada, uma delas na parte posterior da peça, na região inferior, na cabeça, e na voluta esquerda e no final da voluta direita da peça. Na região superior do lado direito da parte de traz da asa foram complementadas utilizando a madeira cedro e fixadas com PVA puro.
Todas as complementações foram realizadas por Rafael Dutra (professor, restaurador e escultor) tendo como referencia as características de movimento da própria talha da obra. 



Massa de Nivelamento
A Massa de Nivelamento é utilizada na restauração quando há perda na camada pictórica e também em intervenção com massa de obturação. O nivelamento tem a função de proteger a camada pictórica, trazendo posteriormente uma visão estética da reintegração. Com relação aos tipos de nivelamento, podemos citar o nivelamento de borda e o nivelamento integral. O nivelamento de borda se insere nas bordas da lacuna, ficando o nivelamento no suporte ou base de preparação no centro da lacuna e a borda é reintegrada por seguridade e proteção da camada pictórica, diminuindo assim seu peso estético.  Se a lacuna fica com um desnível, este tende a crescer devido a manuseio, agentes de deterioração e conservação, podendo romper, tendo o nivelamento causando a proteção da camada pictórica, para não obter a expansão de mais perdas. Optamos em realizar o nivelamento integral das lacunas, executando posteriormente a reintegração.
A massa de nivelamento, além de igualar a camada protege para que não haja mais perda. A preparação da massa varia para cada tipo de material, em geral, é composto por aglutinante + carga. Para chegar a um bom resultado devem ser observados a compatibilidade dos materiais, resistência, aplicabilidade, cor, brilho, aglutinação, craquelamento e retratabilidade. Os materiais utilizados neste procedimento foram, CMC a 4%, diluído em agua deionisada deionizada + PVA puro (3:1), tendo como carga o carbonato de cálcio.  Realizou-se empregando a técnica do pincel (diluído) sobre a lacuna do suporte da madeira.

Realizamos o nivelamento aplicando de inicio uma selagem, a qual consiste em aplicar a massa para preencher superficialmente o suporte para não absorver o aglutinante do nivelamento, após a secagem, aplicamos a massa com o objetivo de preencher a lacuna toda, sempre buscando contornar os movimentos da peça. Nas partes em que o nivelamento é extenso, realizamos o procedimento de nivelar as lacunas que estão no suporte e após esta etapa, complementou-se até as extremidades da camada pictórica.


A base de preparação da carnação é bem visível a quantidade de lacunas, dificultando a observação e causando um ruído na obra, por conta da cor ser amarelada, destoando da cor da carnação, incomodando a percepção.


 Durante a investigação das lacunas, observamos a quantidade que está relacionado a extensão e aglomeração de lacunas uma próxima da outra; e a qualidade, a tipologia da lacuna e os procedimentos que foram realizados deste o inicio da intervenção da peça. As lacunas encontradas na peça, partes estão sobre o suporte e partes sobre a base de preparação. Grande parte das lacunas do suporte estão no rosto da escultura, prejudicando o ponto focal da unidade potencial da obra, havendo também nas bordas, pequenas partes da base de preparação. Nas partes onde as lacunas se encontram com base de preparação, também podemos localizar como o conjunto de ponto focal, já que as perdas estão abaixo a cabeça da peça, destoando das partes íntegras.



No procedimento da base de nivelamento, a massa, após a secagem houve o craquelamento, provavelmente por uma reação dos solventes utilizados para a limpeza da peça. O craquelamento pode ter ocorrido, devido ao excesso de aglutinante utilizado na preparação da massa e pouca carga; quando a umidade seca, a massa contrai. O aglutinante utilizado na preparação da massa absorveu os solventes utilizados na obra durante a limpeza química, contraindo e sugando a umidade química desses produtos, vindo a causar fissuras e craqueles. Após esta constatação, realizamos o lixamento da base de nivelamento e retocamos nas partes em que houve a reação e nas partes que precisavam ser igualadas com a camada pictórica.


            Aplicação do Verniz de Damar
Após o procedimento do nivelamento aplicou-se um verniz para consolidar as áreas niveladas, selando a região do nivelamento e impedindo que o nivelamento absorva a resina da tinta de reintegração. Aplicou-se o verniz de DAMAR a 3% diluído em xilol. Este procedimento, além de proteger o original, satura as cores.




Reintegração Cromática
Em seu texto Tipologia de lacuna, Cesari Brandi aborda a questão da figura e fundo no procedimento de restauro e coloca que “sentiremos a lacuna como figura a que a imagem pictórica, escultórica ou arquitetônica serve de fundo, enquanto é ela própria, e em primeiríssimo lugar, figura”. (BRANDI, 2005, p.128)

Dessa maneira, questões de figura e fundo da obra têm seus critérios de avaliação, pois, se o fundo está em consonância com a obra, ou esta, chama mais atenção que a obra. Do ponto de vista estético, quando as lacunas chamam mais atenção que as demais partes da obra, a subjetividade do restaurador entra em evidência, segundo Macedo, o restaurador tem duas atividades distintas “por restauração entendeu ser somente um ofício, atento à degradação das obras e destinado a investigar os processos materiais e metodológicos aplicados em conservação e restauro; por “retoque”, considerou ser a parte artística da atividade do restaurador.” (MACEDO, 1885, p.6. Apud. BAILÃO, HENRIQUES, CABRAL, GONÇALVEZ, 2010, p.130)



Segundo Brandi (2005, p.128) “se remontarmos a obra na sua essência, perceberemos de pronto que a lacuna é uma interrupção formal indevida.” Então, o restaurador tem a incumbência de restabelecer a unidade estética, devolvendo a fruição potencial da obra. Neste sentido, a reintegração “tem como objetivo minorar as evidências da deterioração da obra e restabelecer a interpretação visual das formas e dos conteúdos iconográficos dos objetos artísticos. (BAILÃO, HENRIQUES, CABRAL, GONÇALVEZ, 2010, p.127)

A proposta da reintegração cromática da escultura do Querubim, é a reconstituição das lacunas, respeitando, até um certo ponto as intervenções. O critério das etapas de restauro foi pensado sendo o suporte e a policromia tendo o mesmo peso de análise e intervenção. Por ter a unidade potencial da obra com grandes da camada pictórica, as lacunas da obra foram niveladas. Este critério de intervenção permitiu realizar uma reflexão sobre este procedimento nesta obra em particular, já que o assunto é muito amplo, e em cada escola as técnicas e pensamentos se modificam, se divergem em alguns casos, como por exemplo, se a imagem a ser restaurada é devocional ou museológica. Em todo caso, nos restringiremos a investigar as lacunas da base de preparação e a unidade potencial da obra.


Utilizou-se como procedimento para reintegração cromática, a técnica de pontilhismo, baseado no ponto concentrado que vai se desconcentrando, gerando um movimento na forma das cores, criando e retraindo volumes.

Realizou-se antes da reintegração cromática, uma aguada nas lacunas. A aguada consiste em criar uma cor próxima a cor da reintegração cromática, com uma densidade da tinta menor, utilizando xilol na diluição da tinta. Para a reintegração na carnação, utilizou-se como procedimento técnico o pontilhismo, que se caracteriza em um conjunto de pontos justapostos. As cores utilizadas foram o Ocre Gialla, Amarelo Ocre Palida, Terra di Cassel e Branco Titaniu. O pontilhismo é uma sobreposição de pontos, em especial, na carnação se utiliza no mínimo de 3 a 5 tons de cores, respeitando a passagem de uma cor para a outra, e o volume da passagem, geralmente com uma concentração de ponto maior na parte escura, e diminuindo a concentração de pontos para construir a passagem. O objetivo é criar a ilusão do olho passar pela parte e não ser contraído para a concentração da reintegração e sim passar despercebido pelo todo.









Aplicação do Verniz final
Em um procedimento anterior a reintegração cromática, realizou-se a consolidação do nivelamento com 3% de resina de Damar diluído em xilol, para assim, o diluente penetrar mais profundo e levar a resina para todo o interior da camada pictórica e os poros. O objetivo da consolidação é fazer com que o consolidante penetre a camada pictórica, base de preparação, bolo armênio, douramento e estofamento, até obter uma saturação da peça.
Neste procedimento da aplicação do verniz final é proporcionar maior resistência mecânica e proteção para a camada pictórica original para as áreas da reintegração cromática da obra.

A receita utilizada na aplicação do verniz final é a base de dois materiais sintéticos, composto por 5% paraloid e 2% de cera micro cristalina diluída em xilol. O método de aplicação realizou-se por aspersão, a solução é aplicada em toda a área da peça, criando um isolamento entre a obra e o oxigênio, para assim, evitar futuras oxidações e proporcionar maior resistência mecânica nas áreas que estavam fragilizadas no processo de restauro.



Após a aplicação do verniz final, realizou-se a análise da escultura, através da fotografia, o estado de conservação inicial em comparação a finalização dos procedimentos trabalhados na peça.









Considerações finais
O presente relatório buscou iluminar o processo de restauração de uma escultura policromada, percorrendo como eixo a pesquisa teórica e suas fontes de análises, conjecturando sobre os procedimentos e funções práticas no restauro em escultura. Os objetivos da pesquisa foram restaurar uma escultura e analisa-la no intuito de conhecer os procedimentos e os materiais utilizados no processo de restauro, investigar e levantar as principais técnicas, quanto ao período e ao modo de trabalho. Devido à falta de registros documentais que pudessem fornecer os subsídios necessários para a realização da pesquisa, foi preciso recorrer à historiografia da escultura e aos materiais que as constituem, realizando assim, um trabalho interdisciplinar que envolveu os estudos técnicos, cientifico, histórico, formais, iconográficos e estilísticos.
Nos conteúdos avaliados sobre os conceitos de restauro, trabalhei com os alguns pensadores que se debruçaram sobre a preservação, conservação e restauro permeando por um emaranhado de termos culturais, sociais, políticos, entre outras articuladas pelos percursores conhecidos e anônimos envolvidos na produção das ideias de seu tempo.
Ao explorar os procedimentos particulares do restauro, o objetivo de registrar os conhecimentos e preceitos de intervenção em uma escultura foram parcialmente alcançados, uma vez que reconhecemos que esta experiência é um inicio de pesquisa teórica e prática e ao mesmo tempo servindo de base para o meu próprio manual de atuação em restauro, o qual também procurei criar outras plataformas de acesso a este conteúdo, sendo criado a página hipermídia www.artdorestauro.blogspot.com
Sobre as etapas trabalhadas na restauração da escultura, foram efetuados os testes com solventes e a limpeza química em diferentes categorias, como descrita no decorrer do trabalho. Observamos que para cada área específica o solvente difere seus efeitos químicos. Em cada etapa do trabalho, discutíamos sobre o excesso de químico impregnado na obra, razão pela qual decidimos utilizar menos solvente e mais trabalho manual com o bisturi, no caso das remoções das repinturas. Avaliamos que esta iniciativa contribuiu para não haver reação química na obra, apesar do trabalho de remoção do verniz oxidado e da repintura ter demandado um maior tempo, por conta do próprio processo de eliminação lenta que é a remoção com o bisturi. A reconstituição dos orifícios e da camada pictórica foi um procedimento importante para o plano estético da obra. A obra apresentava estes dois problemas, portanto, o fechamento dos orifícios com massa de obturação proporcionou uma leveza estética a obra, já que os orifícios se encontram na parte central da escultura, no rosto, abaixo do queixo e em partes no douramento das asas. A massa de nivelamento, além de igualar a camada pictórica, protegerá para que não haja mais perda da policromia. A proposta da reintegração cromática baseou-se na reconstituição parcial das lacunas, respeitando, até um certo ponto, as intervenções anteriores. O critério das etapas de restauro foi pensado, sendo o suporte e a policromia tendo o mesmo peso de análise e intervenção. Por ter a unidade potencial da obra com grandes perdas na base de preparação, as lacunas da obra foram niveladas.  Este critério de intervenção permitiu realizar uma reflexão sobre este procedimento nesta obra em particular, já que o assunto é muito amplo, e em cada escola as técnicas e pensamentos se modificam, se divergem em alguns casos, como por exemplo, se a imagem a ser restaurada é devocional ou museológica.
Outras vias metodológicas para analisar as técnicas e materiais de procedimentos em preservação, conservação e restauro em papel podem variar de ensinamentos de escola para escola. Creio que este exercício de restaurar, contribui para um acúmulo de experiências, potencializando alcançar e lançar luz aos novos meios de obtenção de informações e criando referenciais para selecionar e adaptar uma variedade de materiais e técnicas com critérios e fundamentação. Os procedimentos utilizados por um restaurador podem se diferenciar entre si, chegando a um mesmo resultado em ambos os casos. Com a repetição das técnicas utilizadas, o restaurador vai criando sua própria forma de trabalho dominando as ações e aperfeiçoando seus resultados.
Através das ações e observações das alterações estéticas e estruturais ocorridas na restauração, espera-se contribuir para a história e a conservação da escultura. A descrição exaustiva e detalhada dos procedimentos oferecerá aos próximos restauradores às informações relevantes deste processo e assim perceber a distinção de cada etapa trazendo um maior conhecimento às investigações produzidas em cada época e que são capazes de potencializar seu pensamento de envolvimento e relacionamento com a obra de arte.





Referências Bibliográficas

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Agosto/2014

          Simulado de Massa de Obturação
                                                                         e

                                                                                Massa de Nivelamento


                                                                                                            
                                                                                                                                                                                                                         (Resultado final / Simulado de Massa de Obturação)



                                                                                                   
                                                                                                                                                                                                              (Resultado parcial / Simulado de Massa de Nivelamento)


Introdução

Relataremos a seguir os procedimentos da disciplina Conservação e Restauração de Escultura Policromada I, ministrada por Rafael Dutra, nos meses de Julho e Agosto de 2014 na FAOP. Entendemos a Escultura Policromada como toda imagem esculpida em gesso, barro ou madeira, de fatura popular ou erudita, que apresentam camadas de policromia.
A proposta deste texto, além de ser um instrumento didático de atuação é compreender a realidade após uma intervenção, com técnicas dos procedimentos dos fenômenos investigados e praticados dentro do ateliê de escultura localizado no Núcleo de Restauro no bairro do Rosário em Ouro Preto.

Um dos experimentos realizados permitiu conhecer e trabalhar técnicas e materiais particulares. Relataremos os materiais e procedimentos experimentados com Massa de Obturação, as quais são utilizadas na restauração em pequenos orifícios, galerias, rachaduras no suporte da imagem na madeira, geralmente causados por ataques, impactos, pregos, cravos, objetos cortantes, pontiagudos, etc. Os materiais utilizados neste experimento variam em cada técnica e período, buscando a compatibilidade de materiais, resistência, peso, aplicabilidade, aglutinação, retratabilidade e toxidade.
Outro experimento realizado foi com a Massa de Nivelamento, as quais são utilizadas na restauração quando há perda na camada pictórica e também em intervenção com massa de obturação. A massa além de igualar a camada protege para que não haja mais perda. A preparação da massa varia para cada tipo de material, em geral, é composto por aglutinante + carga. Para chegar a um bom resultado devem ser observados a compatibilidade dos materiais, resistência, aplicabilidade, cor, brilho, aglutinação, craquelamento e retratabilidade.

Experimento 1

Simulado de Massa de Obturação

Suporte em Geral: Madeira, osso, metal, tecido, pedra, barro, granito, etc.
Materiais: Serragem Grossa, Serragem Fina + Aglutinantes.
Ferramenta de aplicação: Espátula 


Simulado de Massa de Obturação - Aplicagem  de PVA + H2O (1:1) + Serragem grossa


Apresentação – Ato 1

Relataremos os materiais e procedimentos experimentados com Massa de Obturação, as quais são utilizadas na restauração em pequenos orifícios, galerias, rachaduras no suporte da imagem na madeira, geralmente causados por ataques, impactos, pregos, cravos, objetos cortantes, pontiagudos, etc. Os materiais utilizados neste experimento variam em cada técnica e período, buscando a compatibilidade de materiais, resistência, peso, aplicabilidade, aglutinação, retratabilidade e toxidade.

Parte1
No processo de preparação da serragem fina, antes de colocar o aglutinante, passar um imã na serragem, para assim, tirar possíveis fragmentos da lamina de corte da madeira. Em seguida peneirar a serragem.
Para o preenchimento dos orifícios da madeira de 5 a 10 cm é aconselhável utilizar serragem grossa na profundidade a qual facilita à secagem, sobrepondo a serragem fina camada após camada, variando com o nível de secagem. A massa de obturação tem que ficar no nível do suporte e não da camada pictórica.
Durante o preparo da massa, apertá-la para evitar possíveis orifícios e bolhas. Quando necessário utilize um palito pontiagudo para ajudar no processo de secagem.



Simulado de Massa de Obturação - Aplicagem  de Mowiol 10% + Serragem fina


Experimento 1.1

Aplicação de Massa de Obturação os quais utilizaríamos em uma restauração


Materiais: PVA + H2O (1:1) + Serragem fina
A aglutinação e a aplicabilidade na serragem fina são boas, permitindo um melhor manuseio da massa no acabamento. Não alterando a variação dimensional, textura, cor e brilho. Sua resistência mecânica, secagem e acabamento foram bons.


            Materiais: Mowiol 10% + Serragem fina
           A aglutinação e a aplicabilidade na serragem fina foram bons. Não alterando a cor e o brilho. A variação dimensional e textura ocorreram pequenos ajustes, tendo a textura ficada um pouco ondulada. A secagem foi longa e a resistência mecânica e acabamento foram bons.


           Materiais: Primal + água (1:1) + Serragem Grossa
           A aglutinação e a aplicabilidade na serragem fina foram bons, porém, de difícil manuseio se comparada a serragem fina, a qual ocupa mais densidade no orifício. Não altera a variação dimensional. A textura é média por ser serragem grossa, ficaram um pouco enrrugada. A cor não altera e o brilho foi ruim. Sua resistência mecânica, secagem e acabamento foram bons.


Experimento 1.2

Aplicação de Massa de Obturação as quais NÃO utilizaríamos em uma restauração

Materiais: Cola de Coelho 10% + Serragem Grossa
A aglutinação e a aplicabilidade com a serragem grossa e o aglutinante de cola de corlho a 10% foram. A variação dimensional, textura e resistência ocasionaram pequenas fraturas. A resistência mecânica ocorreu pequenos ajustes. A secagem e o acabamento foram bons.

Materiais:  Primal + água(1:1) + Serragem Grossa
A aglutinação é boa, A aplicabilidade, textura e resistência mecânica sofreram ajustes. A cor não alterou e o Brilho foi ruim. Sua secagem e acabamento foram bons.

Material: F12
A aglutinação e a aplicabilidade foram boas, porém dificultando o manuseio da massa no acabamento. Não alterando a variação dimensional, textura, cor e brilho. Sua resistência é ruim e a secagem longa e o acabamento bom.





Tabela com os resultados finais dos 9 experimento com Massa de Obturação


  1. F12
  2. PVA + H2O + Serragem Grossa
  3. Mowiol 10% + Serragem Grossa 
  4. Cola de coelho 10% + Serragem Fina
  5. Primal + água(1:1) + Serragem Grossa
  6. PVA + H2O + Serragem Fina
  7. Mowiol 10% + Serragem Fina
  8. Cola de coelho 10% + Serragem Grossa
  9. Primal + água(1:1) + Serragem Fina


Experimento 2

Simulado de Massa de Nivelamento


Foto Z – Análise final do simulado. Suporte de Madeira com a massa



Apresentação – Ato 2

Este experimento foi realizado com Massa de Nivelamento, as quais são utilizadas na restauração quando há perda na camada pictórica e também após intervenções com massa de obturação. A massa, além de igualar a camada, protege para que não haja mais perda. A preparação da massa varia para cada tipo de material, em geral, é composto por aglutinante + carga. Para chegar a um bom resultado, devem ser observados a compatibilidade dos materiais, resistência, aplicabilidade, cor, brilho, aglutinação, craquelamento e retratabilidade.

Os materiais utilizados nesta experiência foi o carbonato de cálcio e a carga, realizado com técnica de espátula (concentrada/ Foto - L) e pincel (diluído) sobre um suporte de madeira (foto Z). Em outro experimento utilizamos gesso-cre com a carga, a técnica de aplicabilidade no suporte foi com uma espátula concentrada e após a secagem utilizamos uma lixa para observarmos a superfície do acabamento e com um swob embebido em agua ideonizada testamos sua resistência mecânica. O ideal neste experimento é preparar uma massa que tenha um bom nivelamento.

Preparação da Massa
Coloque o aglutinante em uma vasilha concentrada com agua morna, em seguida coloque o Gesso-cre e o carbonato de cálcio, cada um em vasilha separada (na tabela em anexo, com o título Massas de Nivelamento, consultar a quantidade de cada matéria). Deixe decantar lentamente, para assim não formar grune. Após a mistura, voltar a vasilha na agua morna para não aglutinar.



                  Foto L – Aplicação da Massa com espátula                                       Foto M – Acabamento com lixa 240


Experimento 2.1

Aplicação da Massa com espátula Concentrada

Materiais: Carga + Aglutinante
Ferramenta: Espátula e Pincel


Aplicação de Massa de Nivelamento as quais utilizaríamos em uma restauração

Simulado

Materiais: Gesso-cre + Cola de coelho
A Aplicabilidade, aglutinação, textura, acabamento e a retratabilidade foram bons. Não alterou a variação dimensional e nem cor. A secagem foi rápida 

Materiais: Calbonato de Cálcio + Cola de coelho a 10 %
A Aplicabilidade, aglutinação, textura, acabamento e retratabilidade foram bons. Não alterou a variação dimensional e a cor. A secagem foi rápida

Materiais: CMC + PVA (3:1) + Gesso-cre
A Aplicabilidade, aglutinação, textura, acabamento foram bons. Não alterou a variação dimensional e nem a cor. A secagem e retratabilidade foram razoáveis.



                                                                                Acabamento após a aplicação da massa


                                         


                                                                                  Teste Swob embebido em agua ideonizada 




Aplicação de Massa de Nivelamento as quais NÃO utilizaríamos em uma restauração

Experimento com pincel diluído

Materiais:  Mowiol 10% + Gesso-cre
A Aplicabilidade, aglutinação, resistência mecânica e acabamento foram bons, com secagem e texturas razoáveis, não alterou a cor e nem a variação dimensional. A retratabilidade foi ruim.

Materiais:  Primal + CaCo3
Aplicabilidade, resistência e acabamento foram bons. A aglutinação, secagem e texturas razoáveis. Alterou a cor e a variação dimensional. A retratabilidade foi ruim.

Materiais:  Primal + Gesso-cre
A Aplicabilidade, aglutinação, textura, resistência mecânica e acabamento foram bons, com secagem razoável, não alterou a cor e nem a variação dimensional. A retratabilidade foi ruim.



Resultado parcial do Simulado de Massa de Nivelamento 




Considerações Finais

Através do resultado obtido, no experimento com Massa de Obturação, pode-se perceber que a resistência mecânica varia conforme o tamanho da galeria. Em uma galeria profunda, é aconselhável optar em trabalhar com uma massa macia, do contrário a massa pode vir a sofrer contrações podendo rachar. Neste caso utilize uma massa mais rígida, o que ocasiona a não flexibilidade.
          No preparo da serragem, passar um imã para retirar resquícios de máquina de corte e posterior mente peneirar. Durante o preparo da massa, não colocar muito aglutinante. Buscando equilibrar, não deixar pastoso e nem pulverulento.Os aglutinantes de Cola de coelho e Serragem são materiais orgânicos. Na utilização desses materiais, é fácil eles sofrerem proliferação de micro-organismo. No trabalho da restauração optar por produtos industrializados, como por exemplo, os aglutinantes de base sintética.
O experimento com a Massa de Nivelamento permitiu conhecer e as técnicas e materiais utilizados, além ter proporcionado uma experiência prática através do simulado, um trabalho importante que “desmitificou” o processo de criação de uma escultura, uma vez que os estudos teóricos contribuíram não só para o processo de restauração, mas para o momento metodológico de reconhecimento da obra de arte.



TÉCNICA CONSTRUTIVA

Simulado de técnica construtiva, realizado nos meses de Abril e Maio de 2014, 
sob a orientação de Rafael Dutra 




Técnicas e materiais utilizados: Marca de formão com pequenas degradações. 


Ao iniciar o linchamento da madeira, a lixa deve correr no sentido vertical da madeira, até tirar toda a ferpas, ferrinhos e outras irregularidades. O grau de lixa utilizado para lixar a madeira, varia de 60º a 100º.

Após o acabamento do suporte, é necessário mover todo o pó com uma trincha, para uma maior aderência das camadas de incolagem. Em seguida, aplica o álcool absoluto com o auxilio de um pincel de cerda de pelo de orelha de boi (flexível e macio). Aplicar o álcool sobre o tampo e nas laterais para evitar a impregnação do aglutinante nos póros da madeira.





1º Camada incolagem
Material utilizado: cola de coelho diluído em água ideonizada, e pincel de cerda de pelo de orelha de boi. A solução deve ser aplicada ainda morna sobre o suporte. A cola de coelho é diluída em banho Maria.
Obs: Na antiguidade utilizava para a incolagem cola de boi ou carneiro





Preparação da Cola de Coelho
  




Cola de Coelho em banho maria



Aplicação da primeira Camada de bolo de armênia





Obs: Em cada término de aplicagem do bolo de armênia, sempre limpar o pincel com água morna por conta da colagem que fica no pincel. A colagem é realizada em 3 camadas, sempre em cada aplicação esperar a secagem. 
As varias camadas aplicadas, contribui para que a madeira absorva com mais facilidade o aglutinante das próximas camadas.
A base de preparação varia de 3 a 8 camadas, dependendo do estado da madeira.
Na segunda aplicação da camada, secar o pincel com um papel toalha.


2º camada – base de preparação

Aplicação da Base da Camada

Após a secagem da incolagem é preparada a solução para a base de preparação, composta por gesso-cre e o aglutinante e cola de coelho a 10%, em agua ideonizada. Serão aplicadas 5 camadas, sempre esperando a secagem de cada.
Após a secagem total das camadas da base de preparação, a mesma recebe um acabamento com lixa d´agua grau 320º, para assim, remover as irregularidades da base de preparação.

Base de preparação

Aplicar o aglutinante em um recipiente morno, em seguida acrescentar a carga de gesso-cre, deixando-o decantar lentamente, sem misturar, até saturar toda a cola. Ir acrescentando a carga até chegar a superfície da cola. Misturar em um único sentido para não pelotar e formar uma massa uniforme. Aplicar a base de preparação sempre morna.
Obs: A durabilidade da base varia entre 7 a 10 dias variando conforme o modo de guarda-la em sua temperatura. Em tempos de temperatura elevada guarda-la na geladeira.
Após a utilização vedá-la. Antes de reutilizá-la, virar a vasilha de cabeça para baixo, o aglutinante não pode escorrer. Aquecer em banho maria.



Preparação da base de preparação com gesso-cre




Acabamento da base de preparação

Após as cinco camadas.
Lixa d´agua 320º para deixar a superfície da base de preparação bem lisa com o objetivo de tirar todas as irregularidades.
Na área da carnação, quanto mais fina a lixa, mais a encarnação fica polida.




Pastilho
Preparação dos desenhos para o pastilho.
Os desenhos do pastilho são realizados em papel vegetal (foto) ou papel poliéster (mascara) no verso do desenho é passado pigmento natural. O desenho é aplicado sobre a base de preparação no local onde receber o tratamento do pastilho.


Aplicação dos desenhos, para o pastilho



Materiais utilizados para a preparação do pastilho:
Será utilizado a mesma massa para cola-de-coelho 10% com aguá ideonizada e gesso-cre, porém, com uma concentração maior de carga, com o objetivo da massa ficar mais grossa.
Após a preparação e a secagem formar um volume, utilize um pincel fino de cedro de pelo de orelha de boi. O pastilho é aplicado por cima do desenho.
Obs: O pastilho não tem muita flexibilidade, quanto ao volume.
Passar uma camada de cola-de-coelho 3:1 com 1 colher de bolo de armênia. 
Com um pincel aplicar 5 camadas de bolo de armênia.

Selagem
 Obs: O objetivo de selar os poros da base de preparação, é evitar a absorção do aglutinante das camadas próximas e também proporcionar resistência mecânica para as próximas camadas do bolo de armênia sobre as mesmas. 
Materiais utilizados: cola de coelho a 10% e pincel de cerda de orelha de boi.



Aplicação do pastilho (da esq. p dir. Mayra, Nayara, Gabriel, Roberta e Clara)




Aplicação do pastilho

Aplicação do bolo de armênia
Sobre a base de preparação, já selada, aplica-se o bolo de armênia diluído na cola de coelho a 10 % na proporção de 1 parte de bolo para 3 partes de cola.
Antes da aplicação sempre deve ser aquecido em banho maria, aplicado ainda morno. Aplicar 5 camadas, sempre aplicar 1 e aguardar a secagem total, para em seguida aplicar as demais.
Observação: A cerda, quanto mais macia, facilita o acabamento do bolo de armênia. Para um melhor resultado, aplicar duas camadas de bolo. O relevo assim fica mais elevado. Quanto mais volumosa a camada, mais espaço fica a superfície para o douramento.



Preparação do bolo de armênia



Aplicação do bolo de armênia


Aplicação das folhas metálicas
Após as aplicações das camadas, e a secagem total, é aplicado as folhas metálicas, as quais podem ser ouro fino, prata de lei, ouro falso ou prata falsa.

Forma de preparo e Aplicação das folhas
Com um pincel com servas de pelo de orelha de boi, é aplicado embebido no álcool absoluto. Aplica-se sobre toda a superfície do bolo, com o propósito de quebrar as moléculas da superfície, causando assim, uma maior aderência nas folhas metálicas.
Obs: Evitar o toque com a mão na superfície do bolo, durante e após o término da secagem.




                Corte da folha metálica                                                   Preparação do álcool absoluto                                        Aplicação do álcool


Materiais utilizados para o corte das folhas de ouro antes da aplicação:
- almofada composta com uma camurça, causando uma maior aderência. 
 A folha metálica é colocada sobre a almofada e com o auxílio de uma faca de dourador, cortada o tamanho desejado. A faca deve estar sempre limpa, para não grudar na lamina durante o corte.
Obs: Ao utilizar ouro fino, ele deve ser manipulado com pincel de pelo de marta, ou um pincel com as cerdas macias.
 Ao utilizar ouro falso, ele permite a manipulação com as mãos, desde que estejam limpas e com talco.
 Nas camadas mais finas do bolo, as folhas serão aplicadas em maior quantidade.



Aplicação das folhas metálicas (da esquerda pra direita: Fernanda, Karina, Andréia e Paula)


A fixação das folhas de ouro sobre o bolo
Materiais: Agua de dourador, que pode ser composta por agua + cachaça, ou, agua + álcool absoluto.
A proporção do preparo varia para cada profissional. Utilizaremos 1 parte de álcool absoluto para 2 de agua e também, 1 parte de álcool + 1 de agua (50%) 1 parte de agua + 1 parte de agua ou cachaça.
A aplicação de 50% e 50% da proporção, tem a absorção maior.


Brunidade
Após a secagem da fixação das folhas metálicas sobre o bolo de armênia, as mesmas são brunidas com pedra de Àgata, ou com uma ferramenta chamada de brunidor, deixando a superfície dourada com maior luminosidade e mais lisa.




                       Análise da pedra ágata                                                                            Brunimento com pedra de Ágata







Após o brunimento 


Esgrafiato
Materiais: 1 parte de gema de ovo + uma parte de agua
Modo de preparo: é retirada do ovo somente a gema utilizada como aglutinante e um pouco de água.
Obs: Na antiguidade se utilizava como fungicida o óleo de cravo + cravo da Índia e pigmento.





Proporção do preparo do aglutinante:
1 parte de gema de ovo (50% gema do ovo e 50% de agua)
A solução deve ser misturada até formar uma mistura até formar uma mistura homogênea. Acrescentar o cravo em inatura (ou óleo de cravo) e fugidia industrial de cera sintética e também pinhosol.
Após o preparo da solução é acrescentado a cor do pigmento desejado, misturar até formar uma pasta uniforme, nem muito grosso e nem muito líquida.




                             Preparando a tempera com pigmento                                                                         Mistura do aglutinante e pigmento                      





Aplicação da primeira camada de tinta





Resultado Final da técnica construtiva