A Iconografia faz parte da história cultural, está
associada ao conteúdo e à forma de representação, tem-se uma ligação entre a
imagem e o significado que indique uma mensagem e uma narrativa. A análise
iconográfica não hierarquiza uma ou outra imagem, elas são colocadas por igual.
Nesse âmbito, Louiz Réau (2005, p. 68) afirma que “as lendas apócrifas não
possuem menor valor que as representações conformes aos textos canônicos, por
menor que seja a quantidade de imagens que elas engendraram”.
O
autor coloca que a iconografia não é teologia ou catecismo da imagem. Para o
iconógrafo o valor estético é destituído, e todas as fontes de informações são
importantes para o estudo, assim como os estudos apócrifos, relatos orais, a
bíblia, a hagiografia, a literatura, a música e diários, são fontes de extrema
importância em uma análise iconográfica.
Para
Louiz Réau (2005) “a obra de arte não é somente uma combinação de formas,
superfícies e cores, mas, a ilustração de um pensamento forma e conteúdo, são
um todo que não se pode dissociar sem torna-lo ininteligível”.
Sendo
assim, em um mundo que não pára de se ver, a imagem ocupa um lugar
privilegiado, assim como qualquer texto, a imagem permite atingir diversos
graus de acessibilidade, de acordo com a ilustração e cultura do receptor[1].
Na iconografia cristã, a arte esta
ligada ao ícone, a imagem em si é sagrada e desperta a fé para os fiéis,
motivando seu comportamento social, segundo Réau (2005) “seu fim não é o
deleite, mas o ensino das verdades professadas pela igreja”.
A
construção da imagem é a base estrutural religiosa do cristianismo, e passa a
fazer parte do culto cristão por seu caráter pedagógico. A imagem põe na
visualidade o que as palavras trazem nas ideias. Segundo Augusto Lima,
no cristianismo
quando se trata de mistérios intraduzíveis ou que envolvem concepções
transcendentes, intervêm os símbolos. Êstes diferem ainda dos elementos
meramente decorativos que, entretanto, são aproveitados muitas vezes como
alegorias, integrando composições educativas ou glorificantes. (LIMA, 1996, p.46)
A
realidade alegórica ou simbólica existe no cristianismo desde o velho
testamento, as imagens eram mais compreensíveis que a transmissão oral, mas
seus significados continuavam ocultos através dos símbolos, assim “os símbolos
estimulam os pensamento e as visões, que são simplesmente observados, sem serem
analisados” (FONTANA, 2012, p. 73) dentro deste contexto, a pesquisa
iconográfica da imagem contribuiu para analisar seus atributos e
características.
[1] Conforme Daniel Kidder, (1972p.
40) apud Oliveira (2000, p. 38), “as imagens não foram introduzidas na Igreja
sem causa razoável. Elas derivam de três causas: a incultura dos simples, a
frouxidão dos afetos e a impermanência da memória. Elas foram inventadas em
razão da incultura dos simples, que não podendo ler o texto escrito utilizam as
esculturas e pinturas como se fossem livros para se instruir nos mistérios de
nossa fé. Da mesma forma, elas foram introduzidas em função da frouxidão dos
afetos para que aqueles cuja devoção não é estimulada pelos gestos de cristo
recebidos por intermédio dos ouvidos sejam provocados pela contemplação dos
olhos do corpo em sua presença nas esculturas e pinturas, já na realidade o que
se vê estimula mais os afetos do que se ouve...Finalmente por causa da
impermanência da memória, já que o que se houve é mais facilmente esquecido do
que se vê...Assim, por um dom divino, as imagens foram executadas nas igrejas
para que vendo-as lembremos das graças que recebemos e das obras virtuosas dos
santos”.